Cientistas

Introdução

Você com certeza já ouviu falar dos cientistas, não é? Mas você sabe o que eles fazem? Onde eles estão? E, especialmente, quem são eles? Quando você imagina um cientista, como você os vê?

Os cientistas são pessoas comuns, como você e as pessoas que você conhece, mas que têm a pesquisa como profissão. Eles buscam através de seus estudos conhecer um pouco mais sobre o nosso mundo, sobre os seres vivos, entre outras coisas, tentando encontrar respostas para perguntas importantes e, de alguma maneira, melhorar a vida das pessoas, dos animais, etc.

No Instituto Butantan há vários cientistas trabalhando em diferentes áreas, como Herpetologia, Toxinologia, História da Ciência, Educação entre outras. Alguns nomes de grande relevância para a ciência brasileira e mundial fizeram também parte da história do Instituto Butantan. Vamos conhecer um pouco sobre alguns deles?

Vital Brazil (1865 - 1950)

Talvez o cientista mais famoso que já passou pelo Instituto Butantan, Vital Brazil foi o primeiro diretor do Instituto.

Nasceu em 28 de abril de 1865 na cidade de Campanha, em Minas Gerais, filho de José Manoel dos Santos Pereira Junior e Mariana Carolina Pereira de Magalhães.

Por uma briga com a família de seus pais, José, o pai de Vital, decidiu que não daria aos seus filhos o sobrenome que carregava. Assim, quando nasceu, Vital foi batizado como: Vital Brazil Mineiro da Campanha, tendo seu sobrenome como referência ao seu local de nascimento.

Aos 21 anos ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, para realizar seu sonho de ser médico, formando-se em 1891. No ano seguinte, mudou-se para São Paulo e foi contratado pelo Serviço Sanitário do Estado para atuar no combate a doenças no interior do Estado. Em 1895, mudou-se para Botucatu (SP), onde abriu o próprio consultório. Foi lá que, tendo contato com muitos pacientes que se acidentavam com animais peçonhentos, passou a interessar-se fortemente por essa área. Fez então diversos estudos buscando identificar como o veneno agia nas pessoas. Em suas pesquisas descobriu que cada tipo de veneno correspondia a um soro específico, descoberta essa de grande contribuição à ciência médica.

Para aprimorar seus estudos, retornou a São Paulo onde passou a trabalhar com Adolpho Lutz no Instituto Bacteriológico e lá conseguiu desenvolver um tratamento eficaz contra o veneno da cascavel e outro contra a jararaca.

Em 1898, foi chamado para identificar uma epidemia em Santos, a qual ele identificou como sendo a peste bubônica (e de tanto ter contato com os pacientes, acabou ele mesmo sendo contaminado).

Para conter essa epidemia, era necessário produzir o soro contra a peste, que é uma doença causada por uma bactéria (Yersinia pestis). Assim, o Governo do Estado comprou o terreno da Fazenda Butantan, em São Paulo, e lá foi instalado um laboratório adaptado em uma cocheira para a produção do soro, sob o comando de Vital. Em 1901, esse espaço foi oficialmente denominado Instituto Serumtherapico de São Paulo, tendo Vital como primeiro diretor. Em 1925, esse instituto passaria a se chamar Instituto Butantan.

Vital seguiu suas pesquisas e realizou parcerias com os fazendeiros do Brasil que enviavam para ele serpentes coletadas em suas fazendas e Vital lhes enviava o soro contra o veneno. Essa troca de favores ajudou Vital a formar uma grande coleção de animais. Em 1919, deixa o Instituto Butantan e muda-se para o Rio de Janeiro, onde funda o Instituto Vital Brazil.

Vital ainda retornaria a São Paulo e reassumiria a diretoria do Butantan em 1924.

Em 1950, aos 85 anos, Vital faleceu, deixando para o mundo um legado que persistirá certamente por muitas gerações.


Lemos Monteiro (1893 – 1935)

A história de José Lemos Monteiro chama a atenção pela grande contribuição dele à ciência brasileira mesmo tendo uma carreira curta, de apenas 15 anos, devido à sua morte precoce.

Lemos Monteiro iniciou seus trabalhos no Instituto Butantan em 5 de julho de 1919, e permaneceu até sua morte em 1935, trabalhando com diversas doenças como difteria, febre amarela, tuberculose, varíola, tétano, coqueluche, tifo exantemático, febre maculosa (também conhecida como febre do carrapato) e sarampão. Durante sua carreira no Instituto publicou um total de 76 artigos.

Em 1932, começaram os estudos para o desenvolvimento de uma vacina para prevenir a febre maculosa, sendo ele mesmo vacinado. Em novembro de 1933, participou de uma comissão desenvolvida pelo Departamento de Saúde do Estado de São Paulo que buscava sugerir medidas profiláticas contra a febre maculosa. Dentre as medidas estavam o combate aos carrapatos e a vacinação preventiva. Essa vacina, desenvolvida pela equipe de Lemos, utilizava o carrapato Amblyomma cajennense (um dos transmissores) para o cultivo das riquétsias, bactérias causadoras da doença.

Em 1935, durante a preparação da primeira partida de vacinas contra a febre maculosa, sofreu um acidente em seu laboratório no Instituto Butantan enquanto triturava carrapatos contaminados, sendo ele e seu assistente técnico Edson Dias, contaminados com a doença.

À época dizia-se que quem ultrapassasse dez dias de sintomas da febre poderia sobreviver (não havia tratamento). Assim, houve uma grande comoção na cidade e no meio científico, e uma forte torcida pela recuperação de ambos. Infelizmente Edson faleceu em 31 de outubro, após sete dias com os sintomas, e Lemos Monteiro faleceu no dia 6 de outubro, após também sete dias com os sintomas.

A contaminação e morte de ambos, além de uma perda científica irreparável, foi também um sinal de que a vacina desenvolvida por Lemos não oferecia uma proteção duradoura, visto que eles haviam sido vacinados menos de dois anos antes de morrerem. Ainda hoje não há uma vacina contra a febre maculosa.

Lemos Monteiro recebeu inúmeras homenagens póstumas, tendo seu nome batizado ruas em cidades brasileiras, como São Paulo (SP), São Caetano (SP) e Juiz de Fora (MG). No Instituto Butantan há também um prédio que leva seu nome.


Jandyra Planet do Amaral (1905 - 2011)

Jandyra é uma cientista que merece muito destaque, especialmente por ter vivido em uma época em que pouquíssimas mulheres estudavam, e menos ainda conseguiam formar-se em uma universidade.

Nasceu em 1905, na cidade de São Paulo, e em 1926 ingressou na Faculdade de Medicina de São Paulo, formando-se em 1931. Em 1931, quando ainda cursava a faculdade, começou a trabalhar como estagiária no Instituto Butantan, onde ficaria por 45 anos, até sua aposentadoria compulsória aos 70 anos, em 1975. Durante esse período, passou por todos os níveis de trabalho possíveis: iniciou como estagiária, passou a subassistente, assistente (antigo nome dado para o atual cargo de pesquisador), chefe de seção, diretora de serviço, diretora de divisão, até atingir o maior cargo possível na instituição: a de diretora geral do Instituto. Durante sua permanência, publicou 35 artigos.

Sua principal área de pesquisa foi com as doenças infecciosas transmitidas por bactérias, como a difteria, tuberculose e diarreia.

Eduardo Vaz e depois Lemos Monteiro, iniciaram os estudos da vacina BCG (Bacilo Calmette-Guérin) em 1926. O preparo da vacina começou em 1928 com Arlindo de Assis e, em 1952, Jandyra foi uma grande colaboradora.

Em 1968, entra para a história da ciência e do Instituto Butantan, tornando-se a primeira mulher diretora desse instituto, isso após ser a primeira mulher a conquistar o título de doutora em medicina do Estado de São Paulo e também a primeira mulher assistente (pesquisadora) do Instituto.

Faleceu em 2011, aos 106 anos de idade.


Alphonse Richard Hoge (1912 - 1982)

Nasceu em 5 de setembro de 1912, na cidade de Cacequi, no Rio Grande do Sul. Filho de pais belgas (seu pai estava no Brasil trabalhando na construção de pontes), retornou ainda bebê, no ano de 1913, para a Bélgica, onde frequentou a Universidade de Gant, formando-se em ciências médicas e naturais no ano de 1934. Na universidade, foi assistente do professor Georges Bobeau, e com ele estudou o uso do veneno de serpentes no combate a células cancerígenas.

Em 1939, retornou ao Brasil, iniciando seus trabalhos no Instituto Butantan em 1946 para desenvolver pesquisas em herpetologia (ciência que estuda répteis e anfíbios). No Butantan, trabalhou com o estudo de animais peçonhentos do Brasil e ofiologia (estudo das serpentes).

Realizou inúmeras expedições por todo o Brasil para coletar animais para pesquisas e, muitos desses, fazem hoje parte da coleção zoológica do Instituto Butantan.

Hoge permaneceu por 36 anos no Instituto, aposentando-se em 1982. Nesse período, tornou-se diretor da Divisão de Biologia (entre 1969 e 1982).

Recebeu inúmeras condecorações, nacionais e internacionais, e publicou 112 artigos, muitos deles contendo a descrição de inúmeras espécies novas para a ciência.

Sua vasta contribuição para o Instituto rendeu-lhe uma importante homenagem: a coleção herpetológica do Butantan, para a qual Hoge tanto se dedicou, recebeu o seu nome, sendo atualmente nomeada Coleção Herpetológica Alphonse Richard Hoge.

Faleceu em 25 de dezembro de 1982, deixando um grande legado científico.

Uma curiosidade: Hoge era fluente em português, inglês, francês, alemão, flamenco e africâner.